The Dark Knight (2008), de Christopher Nolan (Review)
- Ricardo Orsini
- 9 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 21 de jun.

The Dark Knight se esforça para ser grandioso em escopo e em temática. Aliás, muitos são os temas abordados pelo filme: corrupção sistêmica, o dilema moral do vigilantismo, a natureza do caos e da ordem, o sacrifício do herói e a necessidade de um símbolo, a dicotomia complementar entre herói e vilão.
Com sua inegável maestria técnica, Nolan orquestra sequências de ação empolgantes e constrói uma Gotham opressiva. No entanto, a profusão de elementos é conduzida com uma celeridade que, por vezes, beira o esgotamento.
Para costurar múltiplos arcos e dilemas éticos, Nolan sacrifica a respiração necessária para que esses temas amadureçam plenamente no filme. É sensorialmente perceptível, em diversas cenas, sua recusa em se aprofundar em elementos que poderiam ser mais explorados.
A aceleração das transformações de figuras cruciais, como Harvey Dent, compromete a ressonância dramática de sua tragédia. Como o filme não consegue se demorar em sua trama, a profundidade de sua queda resulta em um impacto emocional e simbólico diminuído.
As questões filosóficas e sociológicas levantadas - como a linha tênue entre o bem e o mal, ou a manipulação das massas pelo medo - são articuladas nos diálogos e nas situações, mas raramente exploradas com a profundidade que lhes seria devida.
É claro que a falta de profundidade não é um problema em si. Contudo, em The Dark Knight, há uma clara proposta de profundidade narrativa que não se concretiza, nem mesmo com o monólogo arrebatador em tom shakespeariano, proferido por Gary Oldman ao final do filme.
O público é convidado a testemunhar a complexidade, mas não há tempo para vivenciar nuances e sutilezas. A narrativa tem muitas demandas para se demorar nos detalhes.

Um dos pontos altos do filme reside na atuação de Heath Ledger. Com seus tiques, risadas esquizofrênicas e um alto grau de imprevisibilidade, ele materializa o caos proposto pela narrativa.
A presença do ator injeta uma certa anarquia no universo do filme, o que desafia a própria estrutura controlada que Nolan imprime em seus filmes.
O Coringa de Heath Ledger é notável por sua pungência e carisma inesperados, a ponto de Nolan parecer permitir que o filme "respire" quando ele aparece. É ele quem permite que The Dark Knight se distancie do tom didático e excessivamente explicativo que marca obras como Interestelar ou A Origem (Inception).
O filme acaba se tornando um bom exemplo de como a profundidade e a complexidade podem emergir não apenas da inteligência calculada da direção, mas, crucialmente, da pura e desmedida força anárquica e criativa da atuação.
É na capacidade de Nolan de permitir e integrar essa anarquia performática que The Dark Knight verdadeiramente respira, concretizando parcialmente sua proposta de caos e criando vilões e heróis com alguma carga dramática efetivamente mais complexa.
FICHA TÉCNICA
The Dark Knight (O Cavaleiro das Trevas), 2008, EUA. Direção: Christopher Nolan. Roteiro: Jonathan Nolan, Christopher Nolan (história de Christopher Nolan e David S. Goyer). Diretor de Fotografia: Wally Pfister. Elenco principal: Christian Bale, Heath Ledger, Aaron Eckhart, Michael Caine, Maggie Gyllenhaal, Gary Oldman, Morgan Freeman. Produtora(s): Warner Bros. Pictures, Legendary Pictures, Syncopy, DC Comics. Duração: 152 minutos. Idioma original: Inglês. Principais prêmios e indicações: 2 Oscars (Melhor Ator Coadjuvante para Heath Ledger, Melhor Edição de Som), 1 BAFTA (Melhor Ator Coadjuvante para Heath Ledger), 1 Globo de Ouro (Melhor Ator Coadjuvante em Cinema para Heath Ledger), dentre outros.
