Death Note (2017), de Adam Wingard (Review)
- Ricardo Orsini
- 21 de jun.
- 3 min de leitura

O Death Note de Adam Wingard me surpreendeu bastante nos seus 12 primeiros minutos. Sua pressa em demarcar as situações e status dos personagens, longe de ser um problema, funciona como uma virtude.
O filme estabelece sua premissa com força e rapidez. Em poucos minutos, somos apresentados ao caderno, ao seu poder e ao seu primeiro uso, mergulhando o espectador de cabeça em um mundo moralmente questionável e com um potencial narrativo muito grande.
No entanto, essa mesma velocidade que impulsiona seu início se torna o seu maior problema.
Tudo começa a desandar com a introdução de "Kira" ao mundo. A partir daí, o ritmo se torna acelerado a ponto de atropelar o desenvolvimento dos personagens e da trama como um todo.
A relação entre Light e seu pai, que deveria ser um pilar de tensão moral, é tratada com um certo desleixo. Não há um embate de visões de mundo, apenas cenas que se sucedem sem construir um conflito genuíno entre eles.
O fato de o pai, que aparentemente nunca se aprofundou na investigação do assassinato da ex-mulher, de repente liderar uma força-tarefa especial, parece uma conveniência de roteiro muito forçada.
Algo que me incomoda particularmente no filme é a figura feminina de Mia Sutton ser reduzida ao locus da mulher como uma âncora de imoralidade, interessada e preocupada apenas com a autopreservação. Ela usa sua beleza e sedução para manter o domínio sobre um Light passivo. Seu "eu te amo" soa tão confiável quanto as promessas de Ryuk.
Sua influência empurra a trama para soluções abruptas, como a inexplicável solução do baile que serve apenas para atar as pontas soltas do enredo.
Contudo, é inegável que há um mérito na forma como essa velocidade é orquestrada. A articulação entre a edição ágil, uma mise-en-scène estilizada e uma trilha sonora atmosférica competente confere ao filme um ritmo fluido e interessante.
Mesmo que a história pareça por vezes "sem pé nem cabeça", a experiência sensorial de assisti-la é, em vários momentos, pulsante.

O filme propõe uma questão moral complexa, mas sua corrida contra o relógio não permite aprofundar nada. Curiosamente, isso não se torna um problema fatal, pois a obra parece mais interessada em ser um thriller de ação estilizado e com uma marca pessoal, que um drama filosófico.
Essa superficialidade se estende aos simbolismos, que são forçados e vazios. A chuva e o trem que balança a casa são usados de forma ostensiva para criar tensão e sugerir o colapso da integridade de Light, mas o efeito é mecânico.
Outros símbolos, como a maçã (pecado moral), a serpente Kundalini no teto e os emblemas maçônicos, parecem decoração, elementos inseridos para dar um ar de profundidade que nunca se torna orgânico à narrativa.
A voz sarcástica e a presença imponente que Willem Dafoe confere ao deus da morte são, de longe, o melhor ponto do filme. Ele é a única entidade que parece verdadeiramente se divertir com o caos.
O filme funciona como um passeio rápido e visualmente interessante, mas que deixa para trás a complexidade de seus temas e a alma de seus personagens, restando, ao que me parece, apenas um rastro de potencial desperdiçado.
FICHA TÉCNICA
Death Note, 2017, EUA. Direção: Adam Wingard. Roteiro: Charley Parlapanides, Vlas Parlapanides, Jeremy Slater, baseado no mangá de Tsugumi Ohba e Takeshi Obata. Diretor de Fotografia: David Tattersall. Música: Atticus Ross, Leopold Ross. Elenco principal: Nat Wolff (Light Turner), Lakeith Stanfield (L), Margaret Qualley (Mia Sutton), Shea Whigham (James Turner), Paul Nakauchi (Watari), Willem Dafoe (voz de Ryuk). Produtora(s): Netflix, Vertigo Entertainment, Lin Pictures. Duração: 101 minutos. Idioma original: Inglês.




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