Os Fabelmans (2022), de Steven Spielberg (Review)
- Ricardo Orsini
- 1 de jul.
- 2 min de leitura

Em The Fabelmans (2022), um dos grandes contadores de histórias de Hollywood virou a câmera para si mesmo. Steven Spielberg faz uma homenagem ao seu próprio cinema a partir de uma autobiografia fantasiosa e lúdica.
E, claro, o risco de ser autoindulgente num filme com essa proposta é muito grande. Anunciado como seu trabalho mais pessoal, o filme é um relato de como ele teria, por um lado, se apaixonado pelo cinema, e por outro, o que causou o divórcio dos pais e a cisão de sua família.
O filme começa despretensioso e um tanto ingênuo contando a infância do diretor e seu trauma com a cena de um acidente no clássico The Greatest Show on Earth, de Cecil B. DeMille. Há um momento do filme em que a referência é reforçada, com alguém prenunciando que o jovem Sammy seria o próximo DeMille.
Com o seu desenrolar, a história vai ganhando mais textura e corpo. Mas sempre mantendo a simplicidade e uma certa elegância formal das peças de Clementi, Satie, Beethoven e Bach executadas ao piano pela personagem da mãe. Aliás, as execuções ao piano parecem querer pontuar a intenção de Spielberg de ser maduro na simplicidade, sem malabarismos narrativos ou pirotecnias cinematográficas.
O interesse de Sammy pelo registro da “realidade” começa como uma necessidade de enfrentar um trauma - a violência do filme O Maior Espetáculo da Terra, de Cecil B. DeMille. Sua relação com o cinema vai se tornando mais rica conforme a vida vai se tornando mais complexa.

Num segundo momento, há uma necessidade de controle e manipulação. Em alguns momentos, há uma certa compulsão de controlar o seu entorno, filmando todos os detalhes das cenas de família.
Um novo trauma se revela, quando ele percebe, editando um filme de família, que a mãe traia o próprio pai. Sammy perde seu último traço “ingenuidade” inicial de quem registra a realidade tal como ela é e começa a fabricar o real em suas novas experiências cinematográficas.
Os Falbelmans é um filme divertido, sagaz em suas construções e não me pareceu autoindulgente. Há apenas uma incômoda ingenuidade que é menos expressão de uma época ingênua do que uma autopercepção ingênua do cinema que o próprio Spielberg faz.




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